sexta-feira, 17 de julho de 2020

CORPO & VOZ



Teus olhos molhados gemem
pela voz ofegante do poema.

A menina de teus olhos suplica
de joelhos por um corpo de palavras.

Eis que minhas mãos ofegantes
e semelhantes ao desejo de maresia
teceram a colcha para tua nudez.

“O céu rasgou seu manto em duas partes”.
Despimos o cheiro da metáfora do amor
Que ainda é fogo que arde sem se vê.

A poesia perdeu a voz em teu grito
E o poema abriu o botão de meu vestido.

Nenhuma palavra quis sair da alcova
No instante que teu olhar deixou cair
O roupão desnudo de tuas súplicas.

Naquele instante ímpar e metafísico
a poesia que já andava nua comigo
abriu a peça incomensurável de teu corpo.

(Rosidelma Fraga, 2014).