Tentei segurar o ritmo das horas
que o tempo excitado não perdoa
para compor um verso cor de amora.
Não sei se era imaginação de poeta,
ou encarnação de caboclo roxo no rio.
Vi a poesia se despindo de teus olhos
E quis rasgar a pele de preto no cio.
Guardei o instante da eternidade...
porque eterna é a celebração
de teu sangue desvelado,
de teu beijo poemolhado,
de minhas mãos tímidas,
apáticas, inexatas,
surdas e suadas.
Já não pude esconder a poesia
embaixo do tapete do carro
e tirar a calcinha das rimas
no quarto das bacantes de um motel.
Trouxe da rua a covardia de ser poeta.
Escondi o ciúme de rasgar a tua cor
e ser a menina nua que te dança e namora.
O amor já não pode seguir o relógio
porque o tempo é efêmero e traiçoeiro.
Tenho em mim o triunfo de filtrar
sonhos...
Guardarei o instante e serei Penélope nua
a costurar a colcha de cetim vermelho
a segurar um minuto parado da poesia.
Certamente desnudarei o efêmero da rua
morta,
a velocidade dos carros, o riso do
caboclo,
o receio da mulher em chamas, tua boca
de amora,
e dois negros cabelos virando poema
que voa.
Em instante metafísico meu sangue
quisera ser Afrodite e Jacira
para misturar tua pele de índio
ao meu destino de cigana vagabunda.
No entanto, pressinto que a poesia
casta
ainda que em hora marcada e estática
deixará cair o manto vermelho
do amor dos deuses a molhar teu sêmen.
Teu sangue guerreiro ainda fechará o
tempo
e meu poema regressará ao lirismo de
teu corpo.
Conhecerás que o amor singular e
cravado
permanece além dos sexos e da nudez
dos índios,
é muito mais que o teu corpo sagrado em
mim.
(Rosidelma Fraga).