domingo, 20 de janeiro de 2019

COROAI-ME!



Coroai-me de verdades absolutas
Não me tinjas um poema de brandura
Meu corpo já não cabe o fingimento
de uma sensibilidade líquida e medida.

Corai-me de ausências que tanto canto
Coroai-me da canção de Mozart em silêncio
Coroai-me  daquilo que não seja efêmero.

Coroai-me do cândido sorriso
da menina que vestiu a fome
e bebeu os pedaços do abandono.

Corai-me de rosas de todos os amantes
Coroai-me do amor de todos os gêneros
Coroai-me do AMOR e do AMOR somente.

Coroai-me da pele negra excluída
Coroai-me do amor divino
mas não me venha com religiões!
Não ando mais com um Deus maléfico
O Deus em mim é a chama do amor
que o vento não leva e o tempo não consome.

E se o amor de Deus é humano e sangra
Coroai-me então do riso largo da prostituta
que perdeu a calcinha do pecado na esquina,
sem pudor, preta ou branca,  sem religião,
mas com o sentir de gente, com Amor e Perdão...
Coroai-me “do azul-perdão no olho do mendigo”
Porque já não quero um sentimento de mundo
que minhas entranhas não mais darão as mãos.



(Rosidelma Fraga. In: AmorAmante (2018).).

Nenhum comentário:

Postar um comentário