segunda-feira, 10 de junho de 2019

DESEJOS


Apareço de costas em meu verso
como quem tira o roupão atrás da porta.

Excito a voz rouca do poema
fecho o botão da camisa
e saio desnuda frente ao espelho.

Rasgo o véu da palavra incerteza
E certamente banho na fonte
das metáforas de ser e de amar.

Toda nua, toda rouca, toda cheirosa
a poesia sai de mim pé por pé
e se entrega na cama do desejo lírico.

Depois de ser amassada e sugada
a poesia sai de madrugada
e lê um convite caído ao chão:

VAI TER UM BAILE NO CÉU
ONDE DEUS TODO NU VIRARÁ CANÇÃO
A poesia entrará de pernas abertas
pela porta da frente e com seios fartos.
Eis que os anjos calar-se-ão.
E eu chego descalça
Viro Afrodite com saia de Eros
E sambarei por toda a minha vida.

(Rosidelma Fraga, da obra "Cantares de Amor", 2014).

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