PENETRAÇÃO
DO ADEUS
Visto-me de palavras sem ter a senha
para desbloquear frívolos sentimentos.
Um bom poema precisa de composição
para ser apenas inaudível e intransigente.
Um poema precisa adentrar
O sêmem da palavra desafeto
porque o afeto já não se poema.
Afeto não se compra para rimas.
Um bom poema nasce de ausência,
de renúncias, desamor e despedidas.
Eu, a poetinha da razão, dos pretos,
do beco, da mulher negra, das minorias
e da grandeza das prostitutas e dos órfãos,
deixo somente a rima da palavra nudez
porque se queres amar, ame com o corpo,
a alma - já disse Bandeira - estraga o amor.
Ora, o amor já não bebe os pudores falsos,
nem mesmo despe o gozo dos santuários.
Amar é a eterna volúpia do beijo africano
Amar é a penetração silenciosa da palavra adeus.
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