AFRICANUA E OUTROS POEMAS AFROS

AFRICANUA E OUTROS POEMAS AFROS
Livro digital gratuito publicado pela Editora Pimenta Cultural

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

 SY AYSÚ

 

Índia, exótica ou pretinha, hahaha! Eu não sou!

Já cantaram as aves da Graúna e Kambeba.

Escute bem, meu senhor:

Não me chame de “sua nega”

Não me tome de caboquinha

Não sou sua “cor do pecado”

Muito menos sua mulatinha!

Não me venhas com dengos, seu racista!

Não insista! Sou anti-colonizador!

 

Grave bem,  meu senhor:

Não sou seu corpo-território!

Meu corpo é life afro-livre

Meu corpo é sem suspensórios.

 

E assim, eu canto porque re-existo:

 Eu vim de lá,  eu vim de lá...

Eu vim de lá, eu vim dançando parixara...

Sou a cunhã do aroma de patchouly!

Eu vim de lá, eu vim de lá...

Eu vim dali, sou patuá, eu sou daqui!

 

E tem mais, seu karaiva:

Eu sou a Sy guerreira que abriu as pernas,

gozou poesia e gerou Makunaima!

E assim nasceu este filho trans-amor:

Sou kunhã poranga, sou guarani... 

Muito prazer!  Eu  sou Aysú macuxi!


(Poema inédito produzido exclusivamente para a Mostra Picuá, inspirado na força dos professores indígenas do Parfor Equidade, onde fui Professora Formadora)

....

Glossário explicativo do poema

 

Aysú: amor, em tupi-guarani; e no poema significa “Amor” sem especificidade de masculino para contrapor com a palavra poética trans-amor para todos os povos originários, sem preconceitos de raça, gênero e etnia.

Karaiva: A origem da palavra "caraíva" é indígena, da língua tupi-guarani. Ela é formada pela junção dos termos "kara'i" (que significa "senhor" ou "chefe") e "yba" (que significa "terra" ou "lugar"). Portanto, "caraíva" pode ser traduzida como "terra do chefe" ou "lugar do senhor". No poema a expressão foi utilizada como senhor branco, invasor  do corpo-feminino-indígena.

Kunhã poranga: no poema, preferiu-se a grafia em tupi-guarani.

Parixara: dança, mas no poema a expressão é utilizada como um canto em lá menor.

Patchouly: aroma ogostemon patchouly, designada patchuli de Java, usado na indonésia e na música Roraimeira de Zeca Preto, sentindo intertextual utilizado no poema para a mostra Patuá.

Sy ou Ci, ou Maya: Mãe, tupi antigo, em tupi-guarani e Ci, em línguas indígenas existentes como Wapichana.

Sy Aysú: No poema, o significado é mãe-amor, aquela que pariu o Brasil e não aceita mais ser corpo-território de invasores de terras indígenas.

 

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