domingo, 28 de janeiro de 2024

MARIAS

 MARIAS                                             


As Marias que acordam comigo 

Tecem fios e costuram indrisos...


As Carolinas que me habitam

Catam entulhos de fome e solidão...  


As Dalilas que me fecudam          

Enfeitam as tranças de Sansão....      

                             

As  dançarinas que me desnudam          Tiram os lenços  nos cabarés...   

                        

 As Capitus que me oblicam                      Ciganam os corpos de sedução...

                                  

As Liliths que me enfeitiçam    

 Embriagam os Cristos nas paixões...   

                                 

Já as Mulheres que me povoam

 Vestem-se de Anas e Bacantes, 

Safo,  Anactoria e Penélopes,

Indígenas,  Quilombolas e Africanas, 

Ribeirinhas, Portuguesas e Amazonenses

e outras mil mulheres banto

para desfiar risos e resistências.


(Rosidelma Fraga)

domingo, 9 de abril de 2023

PENETRAÇÃO DO ADEUS

 

PENETRAÇÃO DO ADEUS

 

Visto-me de palavras sem ter a senha

para desbloquear frívolos sentimentos.

Um bom poema precisa de composição

para ser apenas inaudível e intransigente.

 

Um poema precisa adentrar

O sêmem da palavra desafeto

porque o afeto já não se poema.

Afeto não se compra para rimas.

Um bom poema nasce de ausência,

de renúncias, desamor e despedidas.

 

Eu, a poetinha da razão, dos pretos,

do beco, da mulher negra, das minorias

e da grandeza das prostitutas e dos órfãos,

deixo somente a rima da palavra nudez

porque se queres amar, ame com o corpo,

a alma - já disse Bandeira - estraga o amor.

 

Ora, o amor já não bebe os pudores falsos,

nem mesmo despe o gozo dos santuários.

Amar é a eterna volúpia do beijo africano

Amar é a penetração silenciosa da palavra adeus.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

Antes que o sol adormeça

 Venha ver meu sol

com lábios de fome

Metade homem

Metade menino.

 

Vem bailar comigo

Enlaçar meu corpo

Me vestir teus fetiches.


Vem beijar com vinho-tinto

Se fazer de esquecido

Até o amor perder o juízo.


quinta-feira, 29 de setembro de 2022

MANIFESTO DE POESIA

Fica decretado na Lei 13 mil do Universo, os artigos, a saber:

Art 1. O amor de Deus acolherá pretos, pardos, indígenas, órfãos e Madalenas.

Art. 2. Não haverá poema que fale de ódio, misoginia, homofobia, gordofobia, transfobia, etc, etc, etc...

Art. 3. Não haverá céu diferente para pessoas diferentes porque lá não haverá governo nefasto.  

Art. 4. Não haverá separação entre periferia e centro. Todos fartarão do mesmo milagre do pão.

Art.5 . Fica decretado ainda que as pessoas especiais e as crianças ensinarão aos homens que o amor virará poesia e não se amará pela distinção de raça,  etnia , cor, gênero ou religião. 

Art. 6. Para fins de direto, será extinto do universo todo aquele que não jurar amor, amor e AMOR. 


(Rosidelma FRAGA).

sábado, 21 de maio de 2022

PARTILHA

 

Não se partilha afeto em retalhos

porque meros afetos são detalhes,

pontas falhas, linhas tortas e torpes.

 

O amor é uma cena de gozos

sorrisos, toques e delírios a rasgar

o corpo molhado e suado da poesia.

 

O corpo intenso de Madalena

já não pode ser o amor sagrado.

Sagrado é o que fica depois

que Madalena rasga seu véu,

deixa a camisola vermelha

nos prostíbulos da poesia.

 

Afinal, Madalena caminha adiante

porque suas noites são de ausências...

E Madalena, vestida do perdão de si,

escreve suas histórias apenas de corpo...

Com o corpo se faz versos,

apaga-se rimas, mede-se ritmos.

Mas o amor é o que ela levou

para além de uma efemeridade.

(Rosidelma FRAGA).

 

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

CATIVOS


Entre mimos

molhados

e babados,

tu vens, retinto

adoçar rimas.

Em noites afros

tu vens tocar-me

feito menina.

 

Entre rimas

e mimos

saio para afagar

o teu corpo-poema.

 

Vestida de algemas

solto tuas correntes

para sermos cativos

um no outro e do outro

em gritos sem dor.


(Rosidelma Fraga).

 

terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

ORFEU NEGRO

 

Meu Orfeu tece em mim

os sabores da eternidade.

Meu Orfeu veste em mim

o tecido de seu corpo suado

e em meu corpo faz morada.

 

Meu Orfeu é o retrato

do corpo que samba,

da canção que sangra,

de Lilith que dança,

de Madalena que ama

e do gozo em chamas.

 

Meu Orfeu vibra todo afro

e nosso gozo se faz cascatas.

Meu Orfeu degusta em mim

o gozo de amantes metáforas

e geme de amor e vozes caladas.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

POEMA NASCENTE

 Um poema não se pede

Um poema não se espera.


Como arte do além,

o  poema é uma nascente,

brota e jorra versos!

Um poema ergue-se sem razão 

Como as cem razões de afeto.


Porque um poema é doação...

É poesia de rima e sertão .


Um poema faz da sina a poesia

Para abraçar o tempo infinito

E louvar-te meu amigo, pelo teu dia!


(Para meu amigo Sérgio Lopes

Por Rosidelma Fraga). 

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

DUETO DE PRETO



Tem cheiro de preto

meu verso de Amor.


Tem toque tição 

meu poema-segredo.


Tem riso de preta

minha rima de festa.


Tem boca sedenta

minha alma ausente.


Tem pele dourada

meu livro rasgado.


Tem gosto de amora

teu corpo de agora.


E de teus beijos afros e molhados

Cubro-me da poesia enamorada. 


(Rosidelma Fraga, 2022).


domingo, 14 de novembro de 2021

NEGRA, AVANTE!

 

 Negra, eu ouvi teu gemido.

Teu gemido em mim é poesia.

Eu ouvi as chamas de teu pranto

e meu verso do porão virou grito.

 

Por isso invoquei a águia do oceano

para adormecer a fúria dos homens.

 

Em rimas venho dizer-te, negra:

enegreça a fúria do homem branco

com o cintilante de tua negra cor.

Seja como for, seja FLOR

Floresça, negra!

Não se curve, nunca!

Banhe os olhos turvos

do excludente e indiferente.

 

Não pare, negra!

Siga adiante!

Marche!

Não recue! Enalteça-te!

 

E digo mais,

preta cor de amora,

sorria pelo rio afora!

Diga que não és mito

Diga

Repita

Reprise

E grite: AVANTE!

 Avante com seu canto

pois maior que a dor será teu riso

o riso da mulher negra

é o véu do infinito.

domingo, 21 de março de 2021

CURA-ME!

Cura-me!

Cura-me com a ansiedade de teus afagos!

Curo-te com o desmedido beijo de minha calma.

Cura-me ao som de Jesus, alegria dos homens!

E depois de ser várias pétalas nuas em sonhos,

seremos um só corpo, um só poema liberto...

Afinal, o que eu vi em ti?

Vi a minha sede saciada no copo sem fundo

Vi que nas noites insones me tocavas sem rumo 

Vi que teu corpo, teu sangue e teu ar são meus

E teus serão todos meus dias na fonte de amar.

Porque o que eu vi em ti é mais que:

os afagos, mais que a sede de beijo, 

mais que a volúpia, mais que tudo, 

mais que a certeza diante da minha cura.


Rosidelma Fraga.


(P.S.1-Poema pela metade).



domingo, 28 de fevereiro de 2021

EROS E PSIQUÊ

Desdobro o lenço vermelho de metáforas.
Nele, vejo-te em sonhos de Eros e Psiquê...

Eros é a chama sensual que me despe
é  a nota afinada para todas as balladas.


Porém, a poesia fechou o véu do silêncio
porque já não sou Vênus e nem Afrodite,
nem Beatriz, nem a deusa de Petrarca!


Mas tu, meu Amor, és  redenção de versos!
Tu és o paraíso invisível e nostálgico
és o cântico e o mito de Pasárgada
de onde a deusa Afrodite em mim
vem enfeitar e enfeitiçar os cabelos,
para despir os desejos e saciar o poema!


És muito mais que Eros!
És a chave dos mistérios
para acender os incensos
e derramar o amor supérfluo!


Pois o Amor de Eros já não pode ser  incerto.

O Amor não pode ser a frente sem o verso
O Amor é as duas metades que se beijam
e se afinam em notas da mesma canção.

(Rosidelma Fraga-01/03/2021).

Poema escrito em ocasião de uma aula sobre Amor e erotismo/ dupla chama, lendo Octavio  Paz.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

ALINHAVOS

 Jamais escreverei versos naufragados

de um lirismo mecânico e vestido de solidão.


O poema que ora teço vai despindo alinhavos

e nas costuras das cicatrizes o Amor é nudez.


Minha nudez desabrocha como muitas rosas...

Meu amado caminha entre espinhos há horas!


E no cais de horas que parecem intermináveis,

alinhavo palavras doces de metáforas,

banho a pele de Madalena com unguentos,

e o poema vai abrindo as delicadas pernas.


Ora, não demores, meu amado!

Meu corpo e minha alma de poeta,

já te esperavam de outras noites.


E não te esqueças sequer por um segundo

que em mim tu esquecerás a solidão de mundo.

Em mim tu terás o abrigo do Amor sem medida,

terás todas as mulheres nuas em forma de FLOR.